quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Conto: Tenente Lisa Ambrósio Parte III: O Segredo está em cada Letra (suspense policial)




  Saíram em disparada a fim de alcançarem a viatura com o velho. Lisa correu para o utilitário do outro lado da rua, San vinha logo atrás. Minutos depois chegavam no Departamento de Homicídios, havia uma grande movimentação tanto de quem trabalhava no escritório quanto de paramédicos. Os investigadores desceram do carro e foram se informar o que estava acontecendo.

- Não estão sabendo? – falou um dos policiais que estava na viatura escoltando o velho, estava sentado em uma ambulância.
- Não, o que houve? – quis saber San.
- Aquele senhor – explicava o policial – Pegou a minha arma e atirou na própria cabeça.

  Ao ouvir aquelas palavras Lisa ficou em choque, se nada desde o início fazia sentido, agora com um assassino suicida é que não havia sentido algum. Todas as possibilidades de resposta haviam esvaído com um tiro na cabeça.
   
   A investigadora olhou para o seu parceiro o qual também retribuiu mesmo olhar: de choque. Lisa olhou ao redor, olhou para cada rosto que vinha a sua frente, ali diante de tal situação descobriu o quanto era inexperiente no ramo. Sempre pensou consigo mesma que estava preparada a enfrentar qualquer situação da vida. Mas a profissão que escolhera lucidez e discernimento era fundamental, caso contrário você corre o risco de surtar, aí, a voz da loucura fala mais alto.
   
  Ambos entraram no prédio, logo na recepção viram o corpo do velho da barba longa, na mão direita a arma, na outra o cachimbo. Lisa parou diante do corpo e o observou.

- Lisa... tá tudo bem? – perguntou San com certa preocupação.
- Sim! – respondeu ela – Mas não acho que esse seja quem estamos procurando San! – falou agachando-se ao lado do corpo.
- Como não Lisa? – San madura a voz para um tom de incredulidade.
- Isto! – ela tirou do bolso da camisa do velho um bilhete e leu em voz alta – “A morte é a coroa de todos na terra”.
- O que isso quer dizer? – perguntou San.
- Na verdade nada, é só um ditado popular! Mas tenho um palpite – falou Lisa pondo-se em pé – É evidente que o cara está brincando com a gente, cabe entrarmos na dança dele!
- Como? – San já não entendia mais nada.
- Fale para o pessoal que estou voltando para o hotel! – ela deu mais uma olhada no corpo – A resposta está lá!
- Não quer que eu vá junto? – perguntou meio sem jeito San.
- Não vai ser preciso! Mesmo assim obrigada pela preocupação – retribuiu com um sorriso no canto da boca.
- AH! Já ia me esquecendo – exclamou San – Como você descobriu sobre o hotel?
- No versículo o cavaleiro usa um arco. Na mitologia grega o arco e flecha é um dos atributos de Apolo, simboliza a energia solar – concluiu Lisa.
- Interessante! – falou desconcertado.

***

  Um carro parou em frente ao estádio cuja fachada continha uma espada gigantesca, era a casa dos Guerreiros ou como alguns costumavam dizer Warriors. Um homem abriu a porta, caminhou até o porta-malas, abriu, dentro havia um saco plástico o qual se mexia levemente e era possível ouvir um ruído abafado.

- Levante as mãos e não faça nenhum movimento ou eu atiro! – ouviu-se uma voz vinda por trás – Vamos Call, chega desses seus joguinhos!

  O homem virou-se com as mãos levantadas um tanto surpreso pela intromissão.

- Hora, hora! – falou em tom sínico, com um leve sorriso nos lábios – Quem diria! Tenente Lisa Ambrósio! O que devo o prazer da sua ilustre presença tão tarde da noite?
- O que me diz de homicídio qualificado com requintes de extrema crueldade! Ah... É claro! Você é isento em relação ao remorso não é mesmo! – retrucou cinicamente a detetive.

  Lisa apontava a arma para o homem, fez um sinal com a mão e de repente um forte aparato de policiais do grupo tático surgiu das sombras, de becos. Viaturas com as luzes ligadas formaram um perímetro, havia também uma ambulância caso algo saísse do planejado. O homem não expressou nenhuma reação, só encarava a detetive friamente. San aproximou-se de Call, algemou-o e conduziu-o até uma viatura declarando seus direitos, os que lhe restava. No meio do caminho parou de repente, virou para a investigadora e a perguntou:

- Como soube? – quis saber o assassino.
- Novato! – começou a falar Lisa – O segredo está em cada letra.

  O homem fitou mais uma vez a mulher, não restavam dúvidas, Lisa Ambrósio decifrara o código do assassino.

- Nos vemos por aí! – disse o homem.
- Espero que não! – falou Lisa ironicamente ajudando a retirar a vítima, uma mulher, do porta-malas.
- O que você vai irá fazer agora? – perguntou San para Lisa que observava a fachada do estádio.
- Tomar um bom banho e ler um ótimo livro! – afirmou com um sorriso.

A única satisfação que há nessa minha profissão é quando um caso é concluído, quando se tem a chance de salvar uma vida. O resto... São só detalhes que poucos conseguem ver. Ieda Graci escreveu uma vez “A vida e a morte são más para quem não as compreende”. Concordo plenamente com ela, afinal, passo a conhecer histórias de pessoas que nunca vi em minha vida na cena de um crime. Elas falam comigo mesmo desfalecidas, as evidencias é o seu dialeto. Às vezes me pergunto o que fizeram tais almas para merecerem um fim tão terrível, será que foram honestas demais? Boas demais, para um mundo que não comporta tal comportamento? Meu nome é Lisa Ambrósio e compreendo bem a morte melhor que ninguém... O que não compreendo é a vida.

FIM.


Se você chegou até aqui, o meu muito obrigado. Se possível, claro, deixe um comentário e compartilhe o meu trabalho com seus amigos e familiares. Muito obrigado mesmo! 

Também quero agradecer pela assistência uma amiga e agora psicóloga, Kênnya Danielle, que ajudou-me na composição da personagem do serial killer. Abração!

2 comentários:

Nayara Cristina disse...

Adorei o desfecho da historia,me surpreendeu muito rsrs' ,estou a espera do proximo conto :)

Dê Almeida disse...

Exelente Múcyo! O conto ficou muito bom, com um desfecho bem interessante!

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