terça-feira, 9 de abril de 2013

Conto: O Drink por Mucyo Alexandre




- Boa noite, Vic! – cumprimentou-o.
- Boa noite “seu” Braga! – respondeu Victor.
- O de sempre? – quis saber o homem do outro lado do balcão segurando um copo na mão, a postos, só esperando a confirmação.
- Sim, por favor! Mas hoje eu vou querer uma dose dupla!
- Muitos problemas? – quis ser cordial o dono do bar ao perguntar.
- Antes o fosse! – ao falar, Victor soltou um leve sorriso pelo canto da boca com certa ironia – O meu problema é a vida “seu” Braga!

     Braga, o dono do bar, em toda sua vida jamais havia ouvido algo parecido com aquilo. Geralmente seus clientes tomavam um porre ou para esquecerem-se de algo ou de alguém, ou mesmo só pra passar o tempo, bater um papo e tudo o mais, mas nada parecido com aquilo.

- Como assim a vida? – perguntou intrigado, ao mesmo tempo em que pousara o copo sobre o balcão.

     Victor, entretanto, antes que pudesse respondê-lo ingeriu seu drink em um só gole. Logo que terminou voltou sua atenção ao dono do bar.

- Então... Qual era mesmo... A pergunta? – fez uma cara de “sinto muito!”
- Perguntei por que a vida é um problema? – Braga o interrogou novamente.
- Acontece que... – Victor fez uma pausa enfiando a mão no bolso da calça a fim de pegar um trocado, continuou - ...Desculpe-me “seu” Braga, mas se eu o disse isso a alguns minutos atrás já não me recordo agora do que lhe falei – contou as moedas e as deixou sobre a mesa.
- Mas como não se lembra? – Braga nem deu a mínima para as moedas em cima do balcão, tentava entender o absurdo.
- O segredo está no drink “seu” Braga! Por que o senhor acha que eu venho todas as noites, no mesmo horário aqui? Porque o drink me faz esquecer daquilo que já não me lembro mais, mas amanhã quando eu acordar... – fez outra pausa bocejando - ...Sempre surgem novas questões, novas perguntas e se ninguém e muito menos eu não posso responde-las então prefiro esquece-las e seguir em frente, fingindo ser a vida perfeita, sem nenhum risco a minha própria existência! – Victor colocou-se em pé, retribuiu o dono do bar pelo drink com um sorriso simpático e logo foi embora.

     “Seu” Braga, pois, ficou por alguns instantes refletindo nas palavras de Victor, coçou a cabeça e as palavras do seu cliente, talvez o mais assíduo, martelavam sua mente. Ora, o mais curioso era que não se recordava de nenhuma conversa, como aquela, que acabara de ter com Vic. Seu pensamento, no entanto, fora interrompido no mesmo instante em que outro cliente acabara de entrar no estabelecimento. Sem hesitar, “seu” Braga, encheu um copo e bebeu o mesmo drink que Victor.

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