Mais uma dramatização! "A sombra no Sol" trata-se de uma série de textos (contos) escrito pelo querido Eric Novello, carioca, de uma originalidade e senso de humor únicos.
Para mais informações a cerca do livro ou mesmo do autor é só clicar aqui.
Bom, espero que gostem! Também deixarei o trecho que utilizei para o áudio. No mais só tenho que agradecer ao Eric. Quero agradecer também a todos que estão acompanhando esse árduo trabalho em divulgar a literatura.
Claro que não poderia esquecer de agradecer ao pessoal do site Homos Literatus. Nas pessoas do Vilto Reis e Matheus Herédia (Matheus não errei dessa vez viu!). Ambos possuem um podcast que abordam temas relacionados a literatura; processo de escrita; ótimas entrevistas com escritores. Enfim, é um site com excelente conteúdo, aliás, conteúdo de qualidade. Mais uma vez... Fica o meu agradecimento aqui!
Trecho do livro: Em pleno Voo.
Das grades
lustradas da varanda, me atiro. Me retiro do recinto numa única tacada, numa
jogada que preserve meus bons modos, impeça os gritos não gritados, sopre de
volta os bem doloridos que implodem gargantas, fazem ranger os dentes, obrigam
o corpo a desabar.
Tento mirar
as estrelas, a ponta da antena de um edifício, mas é a imagem dele que vejo
contra a escuridão, o sujeito que roubou a minha arte. Estico a mão para me
segurar em transmissões via satélite, uma distração qualquer que evite a queda
ou que a acelere de uma vez.
Ineficiente
em meu rancor, a nada me apego. Continuo a desabar acompanhado da coleção de
instantes que se projeta na parede, se enfileira quadro a quadro, me persegue
quadra a quadra, até faltar o ar.
Não lembro
ao certo como cheguei nessa esquina, se de corridas na escada ou de ansiedade
na porta do elevador construí o meu caminho. De certeza, tenho o vento impresso
em minha cara, um vento que descamou restos e levou sujeiras invisíveis,
arrancou um cílio que não se sustentava mais. Quero fingir que ele é uma dessas
coisas pequenas que só nos atrapalha, que posso descartá-lo com a ponta dos
dedos. Quero mandar Patrícia e seu pintor para o quinto dos infernos, um
quente, católico e tradicional, que derreta as plásticas de uma e chamusque os
olhos do outro, me içando de seu verde de alto-mar. Mas o que quero é vago
diante do que sinto, e uma dor de canelas doídas e joelhos ralados me joga na
cara que nada irá mudar. A lufada forte como um soco não me quebrou os dentes
nem varreu as rugas, deixou somente um aperto que me embaralha as entranhas e
não se desfaz.
Experimento
a ardência no nariz de quem passa muito tempo sem respirar. Sinto queimar a
queda livre, o cheiro que se sente quando tudo em que se acredita se desmancha
num esguicho de aguarrás. Minha sorte é que esse vento seca por dentro e por
fora, inibe as lágrimas e o sentimentalismo, me devolve ao modus operandi da
sobrevivência. Quando sinto a ponta da língua raspar no asfalto, sei que é hora
de abrir as asas e voltar a voar. Pouso com maestria no lugar de onde nunca saí
e cumprimento meu interlocutor. Meus olhos rapineiros percorrem seu corpo,
decoram suas curvas, simplesmente relembram o sabor da presa.
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