“Choramos
ao nascer porque chegamos a
este imenso cenário de dementes.”
William Shakespeare
Na sala de espera do hospital aguardava
angustiado devido a demora por notícias. O relógio na parede parecia estender o
tempo à eternidade. Uma sensação de incomodo lhe afligia o espírito pelo simples
fato de ter que esperar, mas o fazia cheio de uma ansiedade que descia na forma
de um suor frio. O coração, já sem espaço, poderia romper o peito a qualquer
momento.
De repente ouve o ácido rangido da porta. Uma
jovem enfermeira entra na sala. A roupa indicava que acabara de sair do centro cirúrgico.
- Senhor Victor? – a voz
saiu abafada devido a máscara descartável que ainda usava.
- Sim! – apenas levantou
a cabeça com o semblante severamente serrado – Aconteceu alguma coisa? – o
nervosismo transpareceu em sua voz.
- Não, senhor! – quis
acalma-lo – Seu filho nasceu bem saudável! E já pode vê-lo!
A enfermeira fez um gesto com a mão para que
levantasse. Caminhava na frente, claro, indicando o caminho pelos corredores
que mais pareciam um labirinto. A expressão no rosto de Victor era, agora, uma
mistura de preocupação com nervosismo. Seus passos eram lentos...
A caminhada durou pouco, até se aproximar de
um vidro, do outro lado, o berçário. Obviamente não soube identificar qual bebe
era seu filho. Mas havia outra enfermeira cuja função era cuidar dos recém-nascidos.
Moveu-se até um canto e pegou com todo cuidado um pequenino pacote azul e o
levou até próximo de onde Victor observava com uma expressão facial indefinida.
Quando a enfermeira parou, o pai , finalmente
pôde ver seu único e primeiro filho. Chorava muito, lembraria Victor mais tarde
ao relatar o evento. Perguntava a si mesmo se era normal um recém-nascido
chorar tão intensamente daquela forma.
Rapidamente seus pensamentos agitados
vagavam em busca de uma resposta para aquele choro que o deixara bastante
intrigado. De súbito o bebe, misteriosamente, abre seus pequenos olhos fitando de
volta os grandes olhos de Victor, deixando-o extremamente alarmado.
Naquele momento, pois, Victor percebe
inundado pelo susto, que o choro do próprio filho, ao contrário do que se pensava
ser a representação da vida. Era, na verdade, o prenuncio de todo sofrimento
que este enfrentaria até a morte.
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