quinta-feira, 12 de junho de 2014

Um Choro de morte




“Choramos ao nascer porque chegamos a
 este imenso cenário de dementes.”
William Shakespeare

    Na sala de espera do hospital aguardava angustiado devido a demora por notícias. O relógio na parede parecia estender o tempo à eternidade. Uma sensação de incomodo lhe afligia o espírito pelo simples fato de ter que esperar, mas o fazia cheio de uma ansiedade que descia na forma de um suor frio. O coração, já sem espaço, poderia romper o peito a qualquer momento.

    De repente ouve o ácido rangido da porta. Uma jovem enfermeira entra na sala. A roupa indicava que acabara de sair do centro cirúrgico.

- Senhor Victor? – a voz saiu abafada devido a máscara descartável que ainda usava.
- Sim! – apenas levantou a cabeça com o semblante severamente serrado – Aconteceu alguma coisa? – o nervosismo transpareceu em sua voz.
- Não, senhor! – quis acalma-lo – Seu filho nasceu bem saudável! E já pode vê-lo!

    A enfermeira fez um gesto com a mão para que levantasse. Caminhava na frente, claro, indicando o caminho pelos corredores que mais pareciam um labirinto. A expressão no rosto de Victor era, agora, uma mistura de preocupação com nervosismo. Seus passos eram lentos...

    A caminhada durou pouco, até se aproximar de um vidro, do outro lado, o berçário. Obviamente não soube identificar qual bebe era seu filho. Mas havia outra enfermeira cuja função era cuidar dos recém-nascidos. Moveu-se até um canto e pegou com todo cuidado um pequenino pacote azul e o levou até próximo de onde Victor observava com uma expressão facial indefinida.

    Quando a enfermeira parou, o pai , finalmente pôde ver seu único e primeiro filho. Chorava muito, lembraria Victor mais tarde ao relatar o evento. Perguntava a si mesmo se era normal um recém-nascido chorar tão intensamente daquela forma.

    Rapidamente seus pensamentos agitados vagavam em busca de uma resposta para aquele choro que o deixara bastante intrigado. De súbito o bebe, misteriosamente, abre seus pequenos olhos fitando de volta os grandes olhos de Victor, deixando-o extremamente alarmado.


    Naquele momento, pois, Victor percebe inundado pelo susto, que o choro do próprio filho, ao contrário do que se pensava ser a representação da vida. Era, na verdade, o prenuncio de todo sofrimento que este enfrentaria até a morte.

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